quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Fuga nº 1







                                                                 cena do filme Os Incompreendidos de François Truffaut




estou diante da cidade
nua como a poesia dos visionários
bardos e sacerdotisas em suas danças
mutantes selvagens lutando contra os ciborgues
inspirada pelas musas exorcizadas do concreto
pela beleza de um anjo delgado, verde
substituindo a realidade vulgar






domingo, 6 de dezembro de 2015

caminho


Trigos amarelos desciam até a estrada
O sol dourava ainda mais teu semblante
Gotas de suor, lágrimas alegres 
Você seria meu ramo de louro
Perfume de jasmim, temperamento tranquilo
E eu seria o desequilíbrio

Meu corpo era alquebrado porque precisava pouco
Antes de você
Nenhuma estrela caiu, o mundo era o de sempre
Mas depois o frio e o calor nem sei
Como dizer que nada mais existia
Só a música da tua voz e o toque da tua boca
Aberta para o precipício 
Sob a pele e sob a pele outra vez
Cada dia 
Até o fim










sexta-feira, 27 de novembro de 2015

naufrágio





não existe volta, só ida 
diante do abismo da alma 
eu odeio minha paixão suicida  

mergulhei o coração na dúvida

posso ser uma deusa

e posso ficar presa 
no meu próprio desejo 
naufragado
 







sábado, 14 de novembro de 2015

the broken circle breakdown



                                                                                foto do filme The Broken Circle Breakdown






Deixei meu coração debaixo da ponte
Deixei lá, onde passa o nosso rio azul
Enterrado entre as pedras, na corrente gelada e pura
E o vento mexe no feno, atiça as folhas
Entre os cavalos selvagens e suas crinas loucas
E a memória de nós dois juntos me apavora
Por causa daquela beleza toda
A vida te arranca da felicidade, Monroe
E por isso sou Alabama agora.



(poema inspirado no filme)

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Camille

                                                            arte de Wiola Stankiewicz




 

na hora mais escura da madrugada
enterrei meu homem
tirei-o à força de dentro de mim



tumbas desfilavam nos meus olhos ávidos pela sua morte
queria depositar meu ódio o mais rápido possível



e atrás das grades
o passado voando como um pássaro







quarta-feira, 21 de outubro de 2015

sonho...




Os vagabundos estão nus
A cidade está
Nem sol nem céu nem luz
Vou dar o fora daqui agora
Voar para a vida inventada



domingo, 11 de outubro de 2015

fuga noturna nº 1






  lembra daquela noite
  distúrbios & assombros
  entre luzes incandescentes e a saída de incêndio?

  ah, você deve lembrar
  nossos corpos exaustos, depois da chuva
  os cérebros dissolvidos pela carruagem do ópio
  nossas almas entrelaçadas no divino
  naquele pulsar tremendo, de uma vida sem rumo

 e você consegue prosseguir
 dentro dessa memória Louca
         por tanto tempo, desajustados e felizes?

  ah! que solução aquela
  engambelar  leis & policiais
  o mundo real e as anedotas dos outros
  sobre o que se deve ou não fazer
  e nós dois esmiuçando o vinho
  deleitando-se na contramão


 pela manhã uma maçã roubada
 um café deixado no cordão da calçada
 mendigos & vagabundos em sinfonia


  quantos minutos seria preciso
  para embasbacar mais uma vez teu desejo
  quantos quilômetros terei de percorrer
  para chegar no teu paraíso
  onde condenados nos acertamos
  nesse terrível som do prazer?

  
















foto: filme Drugstore Cowboy de Gus Van Sant
música: Patti Smith ( about a boy )

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

cordéis urbanos





A poesia do subúrbio no Rio de Janeiro
Não tem sinal vermelho
Ou vem com tudo, ou não vem
Oferenda máxima engolida



quarta-feira, 30 de setembro de 2015

POR TRÁS DAS QUATRO LUAS





                                      POR   TRÁS   DAS   QUATRO   LUAS
                                      EU   PERCEBO   A   MÚSICA   DAS   ESTRELAS
                                      EM   NOITES   QUE   VÃO   EM   SILÊNCIOS
                                      AS   VEZES   CLARAS,   OUTRAS   ESCURIDÃO
                                      NO MEU LEITO A PENSAR
                                      OU   TALVEZ   NUM   ETERNO   SONO
                                      PERDIDA    NA   MELODIA
                                      QUE      A   LOUCURA   RECONHECE







sexta-feira, 18 de setembro de 2015

uma tarde qualquer



Meus pés descalços roçam os pés da mesa
Ferro gelado e depois desço
Os dedos nus até o concreto liso
Sugando a temperatura do chão, o sol
Delimita seu espaço morno
Entrando pela sacada aberta para a cidade
Ninfas vindas de uma luz fecunda
Ainda que sorrateira e muito disfarçada
Pelas sombras forjadas de edifícios longos

 ( estou cansada do medo
afinal, eu sei
que eu nasci na beira da revolta
nasci na selva )

Esse monstro amarrado
Que a minha vontade conduz
Memória que nunca dorme
Criaturas que somos
Em vidas transitórias
Como os sonhos que sonhamos

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

me acorde




( amor, amor
  bata na porta
  docemente
  bata, bata
  acorde esse antro
  disperse as ofensas
  amor
  amor
  bata na porta
  esse túmulo de solidão
  docemente
  na porta amor
  bata
  no meu rosto
  acorde-me
  meu sonho maligno
  essa sombria desilusão ) 

ao ver teu rosto diante do meu sonho louco talvez eu saia por aí apenas para comprar maçãs e deixar as ondas chegarem nos meus pés ao acaso vender qualquer coisa e poder viver com tranquilidade e tomar chá e despejar vodca nos calcanhares na areia ir ao cinema como todo mundo faz e escovar os dentes num sorriso de sol 











quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Divindades esquecidas




se tivesse sido diferente entre nós,
estaria ao teu lado dentro da nossa confusão
bebendo da taça de alguma deusa pagã
largando as roupas por cima do lixo
deixando o lixo acumular
deixando a vida passar, ébria, linda, solta

no final das contas somos demônios
que não conseguem felicidade
nem através das vísceras, nem pelo pensamento

essa é a pouca poesia que nos resta
depois de termos desfrutado dela
como ferozes ventos por cima da terra




segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Bem, diga adeus, diga adeus



Deixei  a paisagem passar
submissa a esse tipo de pensamento que leva a ter esperanças, vagas
Era só uma visão. 
Mas meu coração queria mais, eu queria, 
acomodando a saudade 
            instalar confortavelmente, como nunca permitira 
                   antigas percepções e lembranças  bem à vontade.

Chorando na rodovia sem nenhuma parada para um café sem chamada a cobrar sem endereço sem. 

( Eu acabara de largar uma vida para trás e ainda assim sabia que a abandonada era eu )

A escolha agora era minha, e o sofrimento maior também. Sigilo meu comigo. 
Incrível melancolia de uma criança querendo a atenção daquela mulher gigante,
aquela mulher:  rosas nos cabelos apenas para sentir os espinhos, 
movida pelas mesmas coisas que todos os outros ao seu redor
gigantes
Uma criatura estranha que se transformara em algo mais do que até ali. 
Meu rosto sobressaía na paisagem, entre as sombras das árvores na estrada. Um enorme monstro sem expressão. 

 

domingo, 6 de setembro de 2015

Canto da sereia de neon (I)



No meio de um inverno sem frio
Palácio úmido em que me encontro
De natureza vazia, entre paredes e cimentos
Com tantas conexões de fios, uns sobre os outros,
Amontoando-se enorme confusão elétrica
Jaz minha alma talvez levada, talvez ainda não
Eu ofereço tudo o que tenho, puxa vida


E os ventos sopram destituindo minhas roupas e as suas
De sua arbitrariedade, então esvoaçam nossos cabelos
Você tenta ser sério, eu

 Bem, aqui estou e aqui ouço:

“ Quem você pensa que é?”