domingo, 27 de novembro de 2016

Delta de Vênus parte I




Conduzida pela minha vontade
Contra a velocidade das ruas
Degelando fisionomias alheias

Vestida com roupas de seda antiga
Botas de lutadora de boxe
E broches com dragões dourados

Cavalos invisíveis, dorsos selvagens
Na mala, um perfume de laranjeiras

           Caminhando entre seres enevoados
           Um prazer estranho se aproxima


sábado, 15 de outubro de 2016

promessa de fogo



 

é algo que vem de você e minha alma sai do silêncio
o gosto salgado me leva à um prazer estranho
lágrimas quentes e brisas movendo-se em saudação às folhas

os loucos verdes momentos da primavera
ainda sob um céu rasgado de azul intenso
e você livre para o amor, acercando a dilatação de minhas veias

teus pulsos,
estômago e ventre tremendo colados em mim,
a terra ainda  fresca, e nada morre

substâncias se misturam e copulam aos meus pés
desenhos coloridos perfume de almíscar
misturando-se com jasmins intensos meus pensamentos

– eliminando percepções adversas do trânsito ao longe e do resto do mundo mais longe
salvando o humor com a leveza dos ossos –

o tempo tropeça tão logo vejo a lua
menestrel da noite se aproximando aos poucos
mergulhando tudo dentro de nós e nós em tudo



sábado, 3 de setembro de 2016

ainda estou aqui



pelo telefone, meu amor, nem me diga
sobre as palavras tão pouco que ouvias
que elas sim, saíram direto do meu estômago
esses tapas que damos na própria cara
e como você mesmo diz, éramos perdidos

e isso me deixa fula da vida, e meus ossos enterrados
do outro lado da linha telefônica
esse fio horrível percorrendo a zona periférica
madrugada vazia dando murro em ponta de faca 


esperei por você como quem aguarda a redenção
de si mesmo, a novidade de ser outro
mas feito um leão
solto pelas ruas, entre os edifícios cinzentos 
perdendo-se
as meias vermelhas quase transparentes
só para deslizar no sol das tuas pernas



sábado, 30 de abril de 2016

olhando o mar ...



Eu vi o sol morrer no meu mar predileto, morrer com as antigas lembranças. Afundando vermelho naquele azul frio, profundo. O entardecer deixando as coisas avermelhadas até me cegar completamente as ideias. E perdendo a intenção da lógica, pouco antes experimentada apesar de breve, pensei, aonde mais eu poderia ir com aquele mar? As ondas estavam calmas naquela hora e suas pequenas cristas chegavam incessantemente na minha frente, uma seguindo a outra sem interrupção. Um vento atingia meu rosto, espalhava meus cabelos e raspava na espuma, traindo aquele ir e vir, empurrando para o ar gotas transparentes. Era uma esperança que em vão eu via na natureza. Era só uma visão. Mas meu coração sentia diferente, queria permissão para a saudade se instalar confortavelmente e se perder nela. Eu acabara de deixar uma vida para trás, e ainda assim sabia que a abandonada era eu. 





segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

noturno




COMO UM VAMPIRO
COM INTENÇÃO
DE SANGUE
SAUDADE DO TEU
TRANQUILO PULSAR
VEIAS COM VIDA
SALTANDO PARA
A MORTE
DO PRAZER
QUE ENCERRA
TODO O SEGREDO
EM NOITES
SECRETAS E MORNAS.










                                                             












sábado, 6 de fevereiro de 2016

no sofá






caindo vertiginosamente para aquele tédio acumulado
horas a fio na monotonia de um vídeo
quem sou eu se não aqueles personagem multifacetados
quem sou eu se não a velocidade

recarga dionisíaca nunca mais
apenas um start again
subtrai-me essa noite de estrelas

confesse, que nunca havias pensado
que o tédio pode ser veloz 



quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

longe












o vento uiva pelas janelas
e as frestas abandonam-se
como entidades mitológicas, ganham vida
invencível é a vontade de palavras
enquanto acreditar nessa força
na loucura do vento, e das horas que seguem
em frente ao papel branco, vazio, insano
não estou diante da máquina, estou absorvendo
as lufadas dessa agitação pelos poros
nas possibilidades que provocam minhas mãos



segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

migrar...





de algum santuário desconhecido
vibram sinos por trás do tráfego e dos prédios
o sol investe contra a cinzenta cidade, morros distantes gritam
pássaros nômades por cima de minha cabeça
e a internet me aguarda, obcecada
pesquiso sobre aves migratórias
quero confabular com essa natureza
ao lado do albatroz um automóvel
ao lado de um ganso selvagem um videogame
ao lado de um cisne um comercial que pula
e ouço dicas para perder peso, e tenho de esperar
analiso meu corpo, deixo a mente parada
volto para a sacada e eis que meus queridos amigos se foram...