sábado, 28 de setembro de 2019

André





é alto e magro
sedutor ainda jovem
encostado
acobertando a luz
descalço

está sempre chapado
em calças de couro
viagem
uísque
malboro

André se mexe
em seu corpo
mexe-se em direção a
Lou

aguardo que sua cabeça
bata na esquina
de algum móvel
enquanto ele procura
beber
um novo trago num
delírio já quase
consumido

aos 32 anos ele gosta de
mulheres sujas
em ruínas
com rostos semelhantes ao mundo
de si mesmas agora e antes

depois de se promover
ridiculamente
acabou me trazendo seus prêmios
para que eu sentisse a vibe:
garotas e garotos, velhas e velhos
a) rosnam
b) babam
c) falam
ao seu comando

tem dias que ele traz alguém
hoje foi o Lou
ou é ela
para que eu veja
escreva

André fica muito bem em
calças justas
André pode acabar rapidamente
com o coração de uma pessoa

espero que ele encontre uma.







segunda-feira, 9 de setembro de 2019

agora





Tens de aproveitar o inverno porque no próximo verão estarás mais velho



segunda-feira, 15 de julho de 2019

passeio





piquenique de sorrisos
nas pirâmides do McDonald's
mortos pelas câmeras
de segurança e fotossíntese
de automóveis pelas vias
respiratórias, embora Você
tenha dito que Gostava disso
do gosto de esperma no asfalto




segunda-feira, 29 de abril de 2019

terça feira, 6:29 da manhã


pequenos frutos vermelhos
do outro lado da janela

pássaros que desconheço
cantam o amanhecer

e as lembranças de segundos atrás
me fazem escrever

é tudo tão delicado ali fora
delicado na pele



meu coração se apodera
de todo o meu corpo

ardendo um fogo sem fim

só de saber que você
dormiu aqui

dentro de mim



e o amanhecer hesita
nenhuma brisa chega nas folhas

os galhos se entrelaçam

meus olhos umedecem fixos
na natureza lá fora
quase dentro do meu quarto

aberto para o mundo





quarta-feira, 17 de abril de 2019

etéreo


teu corpo ainda está no meu
e nossas almas dançam
a música que nos segue

no meu mar
a volúpia das ondas
brota do teu ventre

é a constância do ritmo
aprisionado nessa dualidade
até desaparecer

no sonho sem tempo

e o que eu faço com essas estrelas
é mergulhar no infinito






sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

túneis infindáveis # 2 - depois do mar




vejo nossos corpos, nossas almas
qualquer coisa etérea, volátil como uma música na memória
a melodia permanece, seu ritmo, a ideia que te fisga
mas reina o silêncio
somente as vezes o zumbido da lembrança

meu ombro salgado pelo mar
antes na água
agora sentindo a tua respiração,
morna
lateja com teu corpo

eu sei, é uma imaginação
como aquelas visões nos filmes
ou quem sabe ficção científica
tempos se confundem, mas o amor esta ali
quando iniciou não sabemos
até onde vai, como percorre os caminhos que se abrem
fecham
bifurcam
como um jardim erguido por cima da cidade
das ruas
e onde placas esquizofrênicas apontam para todas as direções possíveis
e da rosa dos ventos, apenas uma vaga sensação de livre arbítrio
que é quase um perigo

vejo a casinha de praia, verde
o capim seco pelo sol quase até o alpendre
as janelas semicerradas
apenas espaço para a brisa entrar
sombra protegendo os amantes
raios escapam pelas venezianas
dilatam meus lábios, enchem teus cílios de luz refletida
o sal está em nós
a água permanece ali
o mergulho foi intenso
eu agarro você sem culpa
quase violenta eu sou, de poesia gótica
no cerne do verão
contradição deliciosa
nunca mais havia me sentido assim
ser tão eu enquanto mais me confundo







quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

túneis infindáveis # 1




eu escreveria sobre a paixão, mas não
estar apaixonada é outra coisa, as palavras nos traem
não que eu não vá
escrever, como estou agora
não que eu não vá

me trair
lançando meu anonimato nas redes
pervertendo o meu silêncio
e ser engolida pelo mar intenso
aquela onda entre o concreto do chão e os muros
e das árvores que crescem e sustentam o vento
perpetuando a imagem nas folhas que caem 

um cheiro de ostra, algas e sal
espuma quase real

não que eu não vá
abrir meu coração em pedaços
juntar os cacos das poucas lembranças

é verdade que a intuição existe
segredos a 7 chaves
sem sossego
até que
até que eu chegue no início
do caminho para o teu desejo

jeans azul, colado
nas pernas erguendo-se, filtrando a passagem do sol
passos firmes, indo para algum lugar desconhecido
e eu envenenada pela minha própria invenção
de que agora é só você que importa

imensa dor cheia de prazer
intranquilo amor nascendo
sob a dúvida da realidade
verdade
ilusão
repetição de frases
palavras bobas
louca
louca
louca

mas nem por isso
não que eu não vá
escrever, como estou agora