quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

túneis infindáveis # 1




eu escreveria sobre a paixão, mas não
estar apaixonada é outra coisa, as palavras nos traem
não que eu não vá
escrever, como estou agora
não que eu não vá

me trair
lançando meu anonimato nas redes
pervertendo o meu silêncio
e ser engolida pelo mar intenso
aquela onda entre o concreto do chão e os muros
e das árvores que crescem e sustentam o vento
perpetuando a imagem nas folhas que caem 

um cheiro de ostra, algas e sal
espuma quase real

não que eu não vá
abrir meu coração em pedaços
juntar os cacos das poucas lembranças

é verdade que a intuição existe
segredos a 7 chaves
sem sossego
até que
até que eu chegue no início
do caminho para o teu desejo

jeans azul, colado
nas pernas erguendo-se, filtrando a passagem do sol
passos firmes, indo para algum lugar desconhecido
e eu envenenada pela minha própria invenção
de que agora é só você que importa

imensa dor cheia de prazer
intranquilo amor nascendo
sob a dúvida da realidade
verdade
ilusão
repetição de frases
palavras bobas
louca
louca
louca

mas nem por isso
não que eu não vá
escrever, como estou agora