sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

túneis infindáveis # 2 - depois do mar




vejo nossos corpos, nossas almas
qualquer coisa etérea, volátil como uma música na memória
a melodia permanece, seu ritmo, a ideia que te fisga
mas reina o silêncio
somente as vezes o zumbido da lembrança

meu ombro salgado pelo mar
antes na água
agora sentindo a tua respiração,
morna
lateja com teu corpo

eu sei, é uma imaginação
como aquelas visões nos filmes
ou quem sabe ficção científica
tempos se confundem, mas o amor esta ali
quando iniciou não sabemos
até onde vai, como percorre os caminhos que se abrem
fecham
bifurcam
como um jardim erguido por cima da cidade
das ruas
e onde placas esquizofrênicas apontam para todas as direções possíveis
e da rosa dos ventos, apenas uma vaga sensação de livre arbítrio
que é quase um perigo

vejo a casinha de praia, verde
o capim seco pelo sol quase até o alpendre
as janelas semicerradas
apenas espaço para a brisa entrar
sombra protegendo os amantes
raios escapam pelas venezianas
dilatam meus lábios, enchem teus cílios de luz refletida
o sal está em nós
a água permanece ali
o mergulho foi intenso
eu agarro você sem culpa
quase violenta eu sou, de poesia gótica
no cerne do verão
contradição deliciosa
nunca mais havia me sentido assim
ser tão eu enquanto mais me confundo